Cachoeira Paulista. Bandeirantes, Tropeiro e Fé

Cachoeira Paulista teve seu início como lugar de passagem dos bandeirantes que por aqui atravessavam o Rio Paraíba e galgavam a Serra da Mantiqueira rumo às Minas Gerais em busca do ouro,das esmeraldas e diamantes. Conhecido primeiramente por Porto da Cachoeira ganhou esse nome por ser o último destino navegável das canoas que desciam o rio já que as quedas d’água formadas após o porto impediam a continuidade da navegação. Mais tarde, com o advento dos tropeiros e seu comércio de gêneros alimentícios, mulas e burros entre as regiões litorâneas e serranas, Cachoeira se transformou num grande pouso para as tropas que permaneciam dias acampadas e que aqui descansavam antes de seguir viagem. Existem sobre esta época relatos da existência de muitas vendas de secos e molhados, oficinas de artesões habilidosos em couro e metal, ferreiros, curadores de animais,etc… Gente de grande e poderosa fé, os tropeiros sempre paravam para descanso e oração na Igreja de Santa Cabeça, no caminho que saindo de Cachoeira levava às cidades históricas do fundo do Vale do Paraíba. A história de Cachoeira Paulista é fruto de um pouco disso tudo. De caminhos e passagens para desbravadores intrépidos que buscavam no desconhecido o seu meio de vida. Do sonho de comerciantes montados em mulas cujos trajetos de tão extensos engoliam suas próprias existências pelas veredas.  Em essência Cachoeira Paulista foi fundada pela fé. Pela fé de homens audazes e valentes,mas que se prostravam no chão e oravam e pediam pela proteção do altíssimo e pelo amparo de Nossa Senhora pelos seus retornos. Os que aqui ficaram e ajudaram a fundar esta cidade são testemunhas dessa odisseia brasileira, essencialmente valeparaibana, profundamente cachoeirense.

CACHOEIRA PAULISTA
(antiga CACHOEIRA e VALPARAÍBA)

Município de Cachoeira Paulista, SP
HISTORICO DA LINHA: Em 1869, foi constituída por fazendeiros do Vale do Paraíba a E. F. do Norte (ou E. F. São Paulo-Rio), que abriu o primeiro trecho, saindo da linha da SPR no Brás, em São Paulo, e chegando até a Penha. Em 12/05/1877, chegou a Cachoeira (Paulista), onde, com bitola métrica, encontrou-se com a E. F. Dom Pedro II, que vinha do Rio de Janeiro e pertencia ao Governo Imperial, constituída em 1855 e com o ramal, que saía do tronco em Barra do Piraí, Província do Rio, atingindo Cachoeira no terminal navegável dois anos antes e com bitola larga (1,60m). A inauguração oficial do encontro entre as duas ferrovias se deu em 8/7/1877, com festas. As cidades da linha se desenvolveram, e as que eram prósperas e ficaram fora dela viraram as "Cidades Mortas"... O custo da baldeação em Cachoeira era alto, onerando os fretes e foi uma das causas da decadência da produção de café no Vale do Paraíba. Em 1889, com a queda do Império, a E. F. D. Pedro II passou a se chamar E. F. Central do Brasil, que, em 1896, incorporou a já falida E. F. do Norte, com o propósito de alargar a bitola e unificar as 2 linhas. O primeiro trecho ficou pronto em 1901 (Cacheoira-Taubaté) e o trecho todo em 1908. Em 1957 a Central foi incorporada pela RFFSA. O trecho entre Mogi e São José dos Campos foi abandonado no fim dos anos 1980, pois a construção da variante do Parateí, mais ao norte, foi aos poucos provando ser mais eficiente. Em 31 de outubro de 1998, o transporte de passageiros entre o Rio e São Paulo foi desativado, com o fim do Trem de Prata, mesmo ano em que a MRS passou a ser a concessionária da linha. O transporte de subúrbios, existente desde 1914 no ramal, continua hoje entre o Brás e Estudantes, em Mogi e no trecho D. Pedro II-Japeri, no RJ.
A ESTAÇÃO: A E. F. Dom Pedro II chegou a Cachoeira em 20/07/1875, abrindo a estação para servir ao terminal navegável do rio Paraíba. Essa primeira estação, construída pela E. F. Dom Pedro II, não era a atual; por pouco tempo, foi uma provisória, próxima ao local da atual, que de 1876 a 1877 recebia de Taubatéuma
ACIMA: Trem da Central na estação em 1915 (Acervo Regina Rousseau). ABAIXO: Cena durante a revolução de 1932 no pátio de Cacheoira Paulista (Acervo Ralph M. Giebrecht/Sud Mennucci). 
diligência que trazia os passageiros que desembarcavam nessa estação, na época terminal da linha da E. F. do Norte, e seguiam até Cachoeira. Por sua vez, a E. F. do Norte chegou com seus trilhos de bitola métrica lá em 12/05/1877, mas a inauguração oficial da ligação ferroviária só aconteceu quase dois meses depois. Foi nessa época que o atual prédio da estação foi entregue. Em 8/7/1877, um domingo, dez mil pessoas receberam no Brás a chegada dos 500 passageiros da viagem inaugural Rio-São Paulo, em dois trens e quinze carros, com o Conde D'Eu, representando o Imperador e o Conselheiro Homem de Mello, de Pindamonhangaba.

ACIMA: Foto aérea de Cachoeira Paulista em 1952. A estação fica ao lado do rio Paraíba do Sul. A última vez em que estive lá, não era possível se ver o rio, de tanta favela entre o pátio e a margem. Isto foi em 2004 (Autor desconhecido). ABAIXO: Cidade e estação vistas do mirante do outro lado do rio Paraíba do Sul (Autor desconhecido).
Eles partiram do Rio às 6:15 da manhã, com festas, discursos, hinos e rojões, festas que se repetiam nas estações do percurso, embora não tenha o comboio parado em nenhuma delas; apenas parou na de Cachoeira, onde foi feita a baldeação por causa da diferença de bitola. As cidades da linha se desenvolveram, e as que eram prósperas e ficaram fora dela viraram as "Cidades Mortas" de

Monteiro Lobato. Por alguns anos, entre 1944 e 1948, a cidade e a estação se chamaram Valparaíba. Finalmente, o nome se tornou Cachoeira Paulista. O custo da baldeação emCachoeira era alto, onerando os fretes e foi uma das causas da decadência da produção de café no Vale do Paraíba. Com a incorporação da EFN pela EFCB, em 1890, as bitolas foram unificadas dezoito anos depois, época em que a baldeação na estação de Cachoeira
AO LADO: A discussão sobre o nome da estação e da cidade, modificados em 1944, acabou por gerar a volta ao nome original com o sufixo Paulista em 1949 (Folha da Manhã, 11/3/1949).

ACIMA e ABAIXO: A estação em dois tempos: anos 1950 e 2006. Hoje, próximo de desabar, a vista da estação do rio Paraíba do Sul não espelha exatamente isso. A majestade, no entanto, se mantém. A vergonha de nada ser feito para proteger este magnífico prédio, tanto fisicamente com historicamente, pesa sobre nossas cabeças (Fotos: anos 1950 - Acervo Mario Garrote; 2006 - Flávio Roger).
acabou. É, e sempre foi, uma das maiores estações do ramal, sendo difícil de fotografar por estar situada em uma rua estreitíssima que passa à sua frente, paralela aos trilhos. Está, infelizmente, abandonada há anos e sendo aos poucos destruída e saqueada por vândalos. Por outro lado, está tombada pelo 

ACIMA: Piso hidráulico da estação de Cachoeira Paulista, como estava em 2004 (Foto Diego S. G. Reis, 2004).

CONDEPHAAT. "A 'velha dama' impressiona pelo tamanho. Apesar de sempre passar por ali, a sensação é sempre a mesma, de reverência ante a grandeza e beleza da construção. Pena que, a esta sensação, se junte o sentimento de profunda tristeza pelo estado de total abandono em que ela se encontra. Quanto mais me aproximo dela, mais posso notar os danos causados pelo tempo, pelo descaso e pelo

AO LADO: Passageiros esperam pelo trem na plataforma da estação de Cachoeira Paulista, talvez anos 1950. "Quem não se lembra da Rede? Quando apitava ao meio dia e as quatro e meia?" (Juliani de Paula Silva, 18/4/2012).

ACIMA: Oficinas de Cahoeira, anos 1980 (Foto Mario Garrote).
vandalismo. Vinte e um anos após seu tombamento, ela está bem próxima de desaparecer. As janelas, o piso interior, as portas, quase tudo já se foi. Das lindas escadas e do telhado, quase nada resta. Confesso que fico com um nó na garganta. É interessante que nos letreiros da estação o nome Cachoeira Paulista já vai sumindo pelo tempo e já é aparece neles o nome antigo da estação, Valparaiba
" (Renato Philippini, 20/10/2003). (Marco Giffoni, 04/2005) "A estação funcionou até a privatização (1996), estive lá algumas vezes em 1996 e ainda havia algumas salas

ACIMA: Acidente ferroviário ao lado da estação de Cachoeira Paulista em 23/4/2011 (Autor desconhecido). ABAIXO: Deposito ferroviário de Cachoeira. Fica a cerca de 1 km antes da estação (para quem vem de São Paulo) e ainda está em pé em 2014 (Autor desconhecido).
 ocupadas pelo pessoal da Rede e outra pela AFAP (Associação dos Ferroviários Aposentados e Pensionistas), mas a maior parte da estação já estava em ruínas como as torres e a parte do meio cujo teto já havia desabado há anos. É como você falou, é muita estação para pouca cidade, além da restauração ser cara o município não teria como arrumar uma finalidade que pudesse compensar o investimento e que tornasse o prédio auto-sustentável como ocorre na Luz ou na Júlio Prestes. No século final do século XIX a estação abrigava além da ferrovia, a agência de correios e a câmara municipal que teve o prédio como sua primeira sede
" (Marco Giffoni, 11/2006).
(Fontes: Ralph M. Giesbrecht, pesquisa local; Regina Rousseau; Diego S. G. Reis; Marco Giffoni; Mário Garrote; Christoffer R.; Carlos R. Almeida; Flávio Roger; Renato Philippini; Folha da Manhã, 1949; Mapa e foto - acervo R. M. Giesbrecht)